Deméter, a mãe nutridora.

Você já se sentiu na presença de uma mulher que, independentemente da idade, mais parece uma senhora generosa? Uma mulher que provê aquilo que considera necessário e de quem nos despedimos com certa vontade de logo retornar a sua atmosfera que bem lembra uma espécie de “casa da mamãe”?
Se sim, eis que possivelmente estávamos diante de uma mulher que tem Deméter como um forte arquétipo em si. Este texto é dedicado às mulheres que se identificam com esse arquétipo (como uma tentativa de compreender um pouco o seu território psíquico), mas, não descarto, que possa também ser interessante para quem gostaria de aprender a conviver com esse arquétipo e/ou cultivá-lo em si.
Deméter, é uma deusa do tipo “vulnerável”, sendo por tanto orientada para relacionamentos (sobre esta classificação “deusas virgens” x “deusas vulneráveis” x “deusa alquímica” eu explico melhor aqui). Ela é conhecida como a deusa do cereal e o feixe de trigo amadurecido é seu símbolo principal. Trata-se de uma figura matronal, geralmente representada sentada. Deméter foi a quarta esposa real de Zeus e foi mãe de Perséfone, filha por quem desesperadamente procurou durante 9 dias e 9 noites.
Como você pode imaginar, este arquétipo materno simboliza a nutrição física, psicológica e espiritual dos outros. Mas não se engane, por mais convidativo que pareça, essa tendência pode ter tanto um impacto positivo, quanto negativo para ela mesma e para as pessoas ao redor.
Indiscutivelmente, a mulher sob forte influência de Deméter tem a aura da mãe terra. É uma mulher nutridora, sustentadora, geralmente extrovertida, prestativa e doadora. São mulheres que sentem o ardente desejo de ser mãe (o que simbolicamente pode acontecer de inúmeras maneiras) e que se realizam nesse papel. De fato, tamanho é o desejo, que não é incomum engravidarem “acidentalmente”. Quando jovens, provavelmente gostavam de segurar bebês e eram ávidas por cuidar de crianças. Outra possibilidade é terem vivido uma inversão de papéis em suas famílias de origem: com pais imaturos ou incompetentes, tomaram conta deles ou dos irmãos. Também na esfera profissional, comumente são mulheres que se realizam em atividades que envolvem ajuda, ensino, cuidado... alguma profissão através da qual seja possível “nutrir” os outros.
Não será possível me aprofundar no mito de Deméter e Perséfone aqui, mas o que posso brevemente resumir é que Deméter teve sua filha Perséfone sequestrada e não descansou até consegui-la de volta. Para isso buscou, vagou, pediu ajuda aos demais deuses do Olimpo e só foi atendida quando, por fim, se recusou a entrar em ação (o que comprometia a agricultura - já que nada mais podia nascer). Então note que, assim como a deusa, as mulheres com esse arquétipo dificilmente abrem mão de suas convicções e não arredam o pé quando alguma coisa, ou alguém importante para elas, está envolvido.
Ok, mas quais são as dificuldades que podem causar a si e aos outros?
Elas podem se tornar dominadoras, pois sua própria insegurança as torna possessivas e sufocantes. Assim infantilizam os outros na tentativa de serem indispensáveis e isso acarreta o sentimento de inadequação na outra pessoa. Muitas vezes, para desfrutar das boas graças de uma mulher Deméter, as pessoas ao redor permanecem em um papel dependente. Outro aspecto é que, não saber dizer não aos filhos e às pessoas ao seu entorno pode as levar a criar "filhinhos da mamãe" (o que pode inclusive fazer com que alguns filhos criem distâncias geográficas para se afastarem da mãe dominadora) ou simplesmente as deixar sobrecarregadas.
Apesar de serem mulheres altruístas e extrovertidas (que fazem o que precisa ser feito com um misto de praticidade e entusiasmo), também tendem à depressão quando o ninho “está vazio” ou quando ficam obcecadas por sentimentos de perda. Então a coisa complica, pois a mulher Deméter, quando deprimida, caminha e suspira, fazendo todos a sua volta ficarem na defensiva, sentindo-se culpados, zangados e indefesos. Fadiga, dores de cabeça, cólicas menstruais, sintomas de úlcera, pressão alta, dor nas costas também são formas do corpo dessa mulher dizer o que ela não consegue:
“Estou esgotada, aflita, com dores. Não me peça para fazer mais nada.”
Quais os caminhos de crescimento desta mulher?

As mulheres sob influência de Deméter crescem quando param de criar expectativas não realistas de como seria ser uma mãe perfeita (totalmente conhecedora e poderosa, capaz de prever acontecimentos e proteger os filhos da dor). Elas próprias se desenvolvem quando renunciam a necessidade de manter as outras pessoas dependentes e muito influenciadas por elas.
São mulheres que precisam perceber que quando dizem sim a todos, ficam esgotadas, apáticas e ressentidas. Então é preciso confrontar a deusa em si. Dizer não tanto para as pessoas, quanto negociar com a deusa interior. Tomar consciência de suas necessidades e de sua raiva por desprezar a si mesma – deixando claro que é insustentável continuar agindo como tem feito.
Desenvolver outras deusas e interesses adicionais além de cuidar/nutrir também é muito saudável para essas mulheres e dedicar para si mesma o cuidado e interesse que sentem pelos outros.
Isso é realmente algo que quero fazer agora? Tenho tempo e energia suficiente?
Não esqueça, é você que precisa reafirmar a si mesma - "mereço melhor tratamento” - e encorajar-se para contar aos outros sobre suas necessidades.
Já as mulheres que desejam cultivar esse arquétipo em si, podem se imaginar grávidas e tendo filhos ou observar mulheres grávidas, podem segurar bebês e dar atenção às crianças. Também podem experimentar a presença da deusa simplesmente dedicando-se para serem mais maternais, pacientes, generosas, acolhedoras e persistentes em favor das crianças ou daqueles que ama.
Que essa energia nutridora lhe inspire e que você aprenda a usá-la, de forma saudável, sobretudo consigo mesma.
Com amor,
Monique
Estes texto tem como fonte a obra de Jean Shinoda Bolen, As Deusas e a Mulher.