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Perséfone, a jovem e rainha do inferno.


Enquanto Deméter é o arquétipo da mãe, Perséfone é o arquétipo da filha. Ela simboliza a juventude, a vitalidade e o potencial para o crescimento. As mulheres que têm forte influência desse arquétipo são mulheres receptivas a mudanças e sempre jovens de espírito. Elas têm a aura da primavera.


Quando estudamos essa deusa, precisamos estar atentas a duas distintas facetas do arquétipo. Inicialmente, antes de se tornar Perséfone (a deusa experiente que reina sobre os mortos, que guia os vivos no mundo das trevas, que pede o que deseja para si e que nunca está ausente para ninguém...), temos Coré.


Coré é jovem, bonita; porém despreocupada. Coré representa a faceta da mulher antes de se tornar Perséfone: é a garota que não sabe quem é, inconsciente de seus desejos e de sua força. Indecisa sobre o que quer para sua vida, ela não faz nada para valer. Coré é inconsciente de sua sexualidade e de sua beleza. É a menina que ainda quer agradar a mãe: obediente, cautelosa, resguardada, protegida do risco, tem um comportamento passivo e foi encorajada a esperar o príncipe encantado.


Então, esse mito nos conta que Coré, a jovem imatura, após ser raptada por Hades e levada à força para o inferno para se tornar sua esposa, retorna transformando-se em Perséfone: a rainha do mundo avernal. Note que, a mulher que tem forte identificação com este arquétipo pode crescer de um aspecto para o outro (de menina para mulher/rainha) ou ter os dois aspectos presentes em sua psique.


O que significa ser rainha do mundo avernal?


Perséfone é a guia para o inferno que aqui representa as camadas mais profundas da psique, ou seja, o lugar onde as memórias e os sentimentos foram enterrados (inconsciente pessoal) e também onde as imagens e padrões arquetípicos são encontrados (inconsciente coletivo). Perséfone tem a habilidade de ir de um lado para o outro, por isso pode ajudar quem visita o inconsciente em seus sonhos, imaginações ativas ou demais experiências. Ela pode ajudar aqueles que foram “raptados” e perderam ligação com a realidade ou aqueles que precisam de ajuda para perceber o significado de suas experiências. Ela é útil aos outros, pois conhece o trajeto de ida e volta para o inferno. Estamos então falando de um arquétipo presente em todas mulheres que se identificam com a linguagem simbólica, com os rituais, com a loucura, com visões ou experiências místicas.


Quais as dificuldades psicológicas que as mulheres com esse arquétipo causam e enfrentam?


Perséfone, ao contrário de Hera (a esposa) e Deméter (a mãe) - ambas com fortes instintos - tende a ser passiva e complacente e, assim, facilmente dominada. A falta de direção e de entusiasmo pode ser um problema para essa mulher quando ainda identificada com a faceta Coré.


Não se comprometer com nada, nem ninguém (porque fazer uma escolha elimina outras possibilidades) tende a fazer essa mulher achar que tem todo tempo do mundo e então ficar esperando até que algo mude. O desvio, a mentira e a manipulação são outros possíveis problemas. Por sentirem-se incapacitadas e dependentes de pessoas mais poderosas, começam a aprender a conseguir o que querem, indiretamente.


São mulheres suscetíveis a depressão, por reprimem a raiva ao invés de expressá-las ou mudar a situação. A raiva voltada para dentro, que é repressão, torna-se depressão. Sentimento de isolamento, inadequação e autocrítica contribuem para depressão. Perceba que Deméter deprimida faz todos ao redor sentirem-se culpados, incapacitados e zangados pela censura que ela imputa. Já Perséfone, ao contrário, se sente culpada e incapacitada. Retira-se da realidade, vivendo num mundo cheio de imaginação simbólica e significado esotérico, deturpando as percepções de si mesmas.


Como se desenvolver?


Estas mulheres precisam literalmente (ou simbolicamente) se afastar da mãe para tornarem-se uma pessoa separada e autodeterminada. Precisam também cuidar para não trocar a mãe dominadora por um marido dominador, pois seu desafio é alcançar a independência emocional.


Elas crescem quando estabelecem compromissos e vivem de acordo com eles (cumprir prazos de entrega, concluir os estudos, casar, criar uma criança, permanecer em um emprego...). O crescimento requer que ela lute contra a indecisão, a passividade e a inércia.


Ao contrário de Hera que deve cuidar para não entrar em um mau casamento (simplesmente pela ânsia de se casar), Perséfone deve resistir a ideia de que o casamento é sempre um rapto ou uma morte. Com o apoio da terapia, a mulher pode aprender a crescer, se afirmar e se tornar independente. Então, assumir o compromisso com uma carreira ou com um casamento, ajuda-a a se transformar em uma mulher amadurecida.


Também é bem provável que essa mulher se realize sendo mediadora entre a realidade comum e não comum. Por causa de suas visões e do seu dom para o encontro com o sobrenatural, é possível que ela se encontre em atividades onde possa guiar os outros a encontrarem significado simbólico para aquilo que envolve o aspecto espiritual da vida.


Como cultivar o arquétipo de Perséfone em si?


As mulheres que não têm identificação com este arquétipo, mas gostariam, precisam cultivar a receptividade: ouvir o que os outros têm a dizer, olhando a partir de sua perspectiva, evitando críticas e preconceitos. Cultivar os sonhos, lembrá-los e escrevê-los, ter insights sobre seus significados, assim como desenvolver a percepção extra-sensorial e aprender a ser receptiva a imagens que surgem espontaneamente em sua mente, também são aspectos a ser cultivados.


Por fim, a deusa Perséfone também convida todas nós a aprendermos a sermos bondosas conosco em períodos de inatividade. Se soubermos viver a introspecção sem autocrítica e impaciência, os períodos de inatividade podem ser intervalos favoráveis para ondas de atividade e criatividade que virão depois.


Com amor,

Monique


Este texto tem como fonte a obra de Jean Shinoda Bolen, As Deusas e a Mulher.

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