Virtudes: O que nos ensina cada ponto do Eneagrama?
O que são as virtudes? Se buscarmos no dicionário, encontraremos a seguinte definição:
"Virtude é a disposição de um indivíduo de praticar o bem; e não é apenas uma característica, trata-se de uma verdadeira inclinação, virtudes são todos os hábitos constantes que levam o homem para o caminho do bem."
No estudo do Eneagrama, dizemos que as virtudes são emoções de uma dimensão superior. Quando você se conecta com a sua virtude, passa a emanar pelo seu coração algo divino. São manifestações naturais de algo muito do bem que florescem a partir do contato com o Ser.
Vamos ver quais são as principais virtudes que o Eneagrama nos ensina?

O ponto 1 do Eneagrama nos conta sobre a virtude da serenidade. A serenidade vai muito além de um comportamento calmo, suave ou manso. Trata-se de uma profunda aceitação das coisas do jeito que elas podem ser em cada momento. É a nítida percepção de que tudo tem uma razão de ser, ainda que não a compreendamos. A serenidade habita um coração que não se perde em reatividade.
Não é sobre não se importar, mas sobre ser capaz de responder ao invés de reagir. Não é sobre concordar, mas sobre aceitar.
O que nos distancia da serenidade, é a ira. A ira brota do desejo do ego de corrigir, ou seja, do sentimento de raiva diante de tudo aquilo que não corresponde as nossas expectativas. A ira provoca um corpo tenso, um estado emocional de irritação e uma mente julgadora e crítica. Já a serenidade, uma paz de espírito que brota da profunda aceitação.

O ponto 2 do Eneagrama nos traz a virtude da humildade. A palavra humildade tem origem na palavra “humus” que significa terra fértil. O humilde é aquele que é do tamanho que é, nem maior e nem menor: se respeita, reconhece suas necessidades e limites. Por se cuidar e se amar de verdade pode também ser essa terra fértil para os outros. Quando soltamos o desejo de ser o centro de tudo que se passa ao nosso redor, ocupamos um lugar mais tranquilo e sereno. Então torna-se possível viver com humildade.
Aqui o que atrapalha o acesso à humildade é o orgulho. O orgulho é um “eu inflado” ancorado na carência. É viciado em agradar ou querer chamar a atenção para sentir que tem valor, que é bom e que tem importância.
“O Ego é orgulhoso e deseja ser importante perante os outros, mas o Ser é humilde e sabe exatamente quem é em cada momento”. André Prudente

O ponto 3 do Eneagrama nos revela a virtude da veracidade. Viver a veracidade é ser fiel a quem realmente se é, revelando seu verdadeiro eu, com simplicidade e sinceridade. É ser capaz de dizer a verdade que emana do coração e então descobrir que todos nós temos valor e merecemos ser amados, simplesmente por existir. Simplesmente por ser quem já somos.
Cultivar a veracidade em sua vida, ou a autenticidade, é muito diferente do que viver por trás de uma máscara, uma convincente imagem, elaborada para obter atenção, reconhecimento e para tentar se proteger do medo de não ser amado (caso você ouse simplesmente expressar o seu eu espontâneo). Importante também perceber que a autenticidade nada tem a ver com uma honestidade brutal (no estilo doa a quem dor), mas sim sobre confiar em você do jeito que você é. Autoaceitação parece ser o primeiro passo.

O ponto 4 do Eneagrama nos fala sobre a virtude da equanimidade. Viver a equanimidade é viver em conexão com a sua essência que é completa e satisfeita. Trata-se de sentir tudo: sem reter ou rejeitar as emoções. Porém, sem fazer dramas. Sem dificultar as coisas. É sobre reconhecer que, sim, há muito ainda a ser conquistado. Mas, por outro lado, reconhecer também que você já avançou bastante. E ser feliz no meio disso tudo.
Viver a partir dessa virtude é muito diferente do que estar aprisionado na melancolia, fugindo de agir e de lidar com as causas do seu sofrimento, por apego às histórias e aos pensamentos negativos sobre quem se é. Também é muito diferente do que viver focado no que está faltando, pensando no passado e desvalorizando o que está acontecendo agora: jogando fora o lado bom das situações e dos relacionamentos.

O ponto 5 do Eneagrama nos conta sobre a virtude do desapego. Essa virtude nos faz lembrar que os recursos sempre estão disponíveis e que fluem continuamente. Reter objetos, conhecimentos ou demonstração de sentimentos (por achar que não há o suficiente ou que os recursos irão acabar) é um comportamento que revela a mentalidade de escassez. Quem experiência essa virtude, percebe que não há necessidade de economizar o seu envolvimento com a vida. Pelo contrário, pois quanto mais nos envolvemos com o mundo ao nosso redor, e quanto mais disponibilidade tivermos para trocar nossos recursos com os outros, mais receberemos.
Já o apego está baseado no medo, na insegurança (de que os recursos necessários não vão chegar ou de que vão acabar) e no desconhecimento do verdadeiro Eu. O apego vem da pobreza de consciência.

Como a dúvida influencia suas escolhas? O que está sendo evitado quando você se mantém permanentemente em dúvida? E se você desistisse de tentar encontrar segurança?
No ponto 6 do Eneagrama encontramos a virtude da coragem. A palavra coragem vem do latim "coraticum" , que significa a bravura que vem de um coração forte. Gosto quando definem coragem como uma força espiritual que nos torna capazes de atravessar uma circunstância difícil com confiança.
Perceba que coragem não significa ausência de medo, mas sim - agir - apesar dele. Coragem também não significa se jogar de forma desastrosa em direção a algo. Para refletir: Talvez seja simplesmente sobre ter coragem de falar a verdade, de ousar fazer o certo, de encarar o dia a dia e de correr os riscos que envolvem ser quem você é e estar vivo!
“A vida se contrai e se expande proporcionalmente à coragem do indivíduo.” Anaïs Nin

O ponto 7 do Eneagrama nos fala sobre a virtude da sobriedade. A sobriedade tem a ver com se sentir verdadeiramente satisfeito com o que se apresenta aqui e agora. Trata-se de um profundo estado de contentamento (sem a necessidade de distrações e de estímulos externos para ser feliz). Esse estado de contentamento é encontrado no silêncio interior e na quietude (quando se tem coragem de atravessar a dor). Cultivando a sobriedade em nossas vidas, conseguimos identificar e nos dedicar ao que verdadeiramente importa: a preciosidade do que está aqui, bem diante de nós, agora. Perceba que a sobriedade (ou o contentamento) é bem diferente da eterna busca por uma felicidade futura. É bem diferente do que seguir se alimentando de “positividade” para tentar preencher um vazio interior: uma “positividade” que nunca sacia e que nunca é suficiente.

Como o seu exagero de força e de insensibilidade (ou o exagero de “proteção” para somente com alguns) criam um disfarce para o seu próprio medo de ser incompetente ou fraco? Se você simplesmente parar de exagerar (em ambas as direções), o que será descoberto? O ponto 8 do Eneagrama nos conta sobre a virtude da inocência. Ah, como eu honro essa virtude! Que desafiadora e necessária! A inocência está relacionada com a nossa capacidade de manter o coração aberto, suave, receptivo e amoroso com tudo e todos, mesmo diante da possibilidade (que sempre existirá) de ser novamente machucado, traído, enganado... Para viver a inocência será preciso aprender a perdoar (a si mesmo e aos demais), se desfazer da culpa e do desejo de vingança. Será preciso redescobrir como é viver quando se escolhe abrir mão do impulso de contra-atacar. Perceba que inocência nada tem a ver com ingenuidade. Ingenuidade é uma falta de consciência sobre o que está acontecendo dentro e fora de nós. Já a inocência é um estado de receptividade.

O que você está adiando? Por quê? O que poderia acontecer se você parasse de adiar? No ponto 9 do Eneagrama acessamos a virtude da ação certa. A força da ação certa está relacionada ao engajamento, a proatividade, a diligência... Trata-se de agir e de se mover conscientemente, enfrentando os conflitos da vida com assertividade. Para acessar a ação certa você precisa: 1) Sentir e reconhecer as suas reais necessidades; 2) Traçar objetivos claros; 3) Um corpo com vitalidade para entrar em ação; Perceba que viver essa virtude é muito diferente do que viver em um estado de confusão, de distrações e de estagnação. Questione-se: Qual é a sua necessidade neste momento da sua vida? Quais são as suas metas? O que você precisa fazer para se mover em direção a elas? Mantendo o foco você irá superar todos os seus desafios!
Que essas lembranças nos ajudem a retomar o contato com todas as virtudes que habitam em cada um de nós.
Com amor,
Monique